Os governos, por melhores ou piores que sejam, passam. Os países ficam.
É
nisso que deveríamos pensar neste dia 10 de abril de 2015, uma sexta-feira:
o que está em jogo no momento não é o destino de um governo, mas o futuro do
nosso país.
Na nossa jovem democracia, que
acaba de completar 30 anos, nunca tivemos os primeiros 100 dias de um novo
governo tão tumultuados, com tantas crises e conflitos ao mesmo tempo, como
neste Dilma-2.
A esta altura do
campeonato nacional, tão grave é a situação, que não adianta ficar
discutindo quem é o culpado e quem tem razão, quem errou
ou acertou nas suas previsões, quem roubou mais ou menos. Estamos
todos no mesmo barco, à deriva.
O fato é que completamos este
período simbólico com uma junta civil formada por Dilma, Temer e
Levy no comando do país, um Congresso conflagrado, em que a maioria
governista virou minoria, a base aliada em frangalhos e a oposição
liderada pelo principal partido aliado, o PMDB de Eduardo Cunha,
sem falar nos estragos já causados pela Operação Lava Jato nos principais
indicadores econômicos.
Para se ter uma ideia do clima,
esta semana, durante um debate promovido pelo Sindicato dos
Jornalistas de Minas Gerais, em Belo Horizonte, a primeira pergunta
que me fizeram foi sobre o perigo de termos novo golpe militar.
Não corremos este risco. Respondi que a maior ameaça à democracia
não vem dos quartéis, mas da aliança conservadora
jurídico-parlamentar-midiática liderada pelo presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, e o ministro do STF Gilmar Mendes, em parceria com
o Instituto Millenium.
São eles que
determinam a agenda política e inspiram estes grupos cinzentos de
indignados e revoltados formados nas redes sociais, que marcaram
novas manifestações contra o governo para o próximo domingo, dia 12.
Ganharam tanta força nestes 100 dias que, a seguir nesta marcha, daqui a
pouco vão querer revogar a Lei Áurea e implantar a pena de morte no
país, com o apoio de paneleiras e marchadeiros sem noção
mobilizados em torno de um único objetivo: "Fora Dilma!".
O que os move é apenas o
sentimento de vingança, inconformados com a quarta derrota seguida para
o PT de Lula e Dilma. O que eles querem, afinal, além de derrubar o
governo? Para colocar em seu lugar que projeto de país?
Se o que os mobiliza fosse o
combate à corrupção, por que não gritam também "Fora Cunha!"
e "Fora Calheiros!", os presidentes da Câmara e do Senado que estão
sendo investigados pela Operação Lava Jato? Será que alguma das suas
emergentes lideranças está preocupada mesmo em salvar a Petrobras ou apenas
quer rifa-la na bacia das almas para o primeiro gringo que aparecer?
Por que não levam
para as marchas faixas e cartazes com os nomes dos bancos e
das empresas investigados na Operação Zelotes no maior
propinoduto de sonegação fiscal da nossa história? Por que não
pedem a lista dos maganos flagrados com contas secretas no HSBC da Suíça?
Por que não cobram da Justiça mais agilidade nos processos
dos mensalões tucanos e dos trensalões paulistas?
O quadro é tão nebuloso que a
oposição oficial dos tucanos e agregados está mais perdida
do que cachorro em dia de mudança, sem saber se dá as caras nos
protestos ou fica mais uma vez na janela para ver a banda passar, torcendo
de longe. Já não sinto neles e nos seus celerados porta-vozes da imprensa o
mesmo ânimo dos dias que antecederam o 15 de março, que pode ter
sido apenas um tardio espasmo pós-eleitoral.
Seja como for, aconteça o que
acontecer no domingo, ainda temos pela frente 1.360 dias de
governo Dilma-2, agora sob a direção da dupla Temer & Levy e com
a presidente no papel de rainha. Em lugar do flácido
"presidencialismo de coalização" da envelhecida Nova República, estamos
inaugurando o parlamentarismo monárquico. Pelo menos nisso, ficamos mais
parecidos com a Inglaterra...
E vamos que vamos!
Autoria:
Ricardo Kotscho
Publicado (aqui) em 17/04/2015
Editorial:
O jornal A Gazeta do Iguaçu, em
sua edição 8.031, de 11 e 12 de abril de 2015, fez do artigo acima, seu
Editorial, endossando o manifesto do jornalista
A BORKENHAGEN, detentora dos
direitos sobre a Coluna Mensageiro, publicada às sextas-feiras neste jornal,
abre espaço porque julga conveniente a apreciação, a avaliação e o debate,
para que se alcance maturidade, se faça juízo coerente e não se permita ser
levado pelo vento das passeatas sem objetivo.
Nos limitamos a sublinhar no
texto acima, o que foi sublinhado no jornal impresso. Assim facilita aos
leitores aterem-se à informação central, de forma condensada.
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