Um músico,
quando escreve a letra de suas canções, é um pensador, além de profissional
da música. Quando escreve artigos, também transmite para outros o seu
pensamento. Assim Tiago Lobão tem espaço no
jornal A Gazeta do Iguaçu. Reproduzimos seu artigo da edição de 07/10, mas
vamos anexá-lo (também) ao nosso artigo, na edição virtual da Coluna
Mensageiro, de 14/10, pelo respeito aos professores e às professoras.
Existe, na cultura popular, o ditado que diz ser, a ignorância uma bênção.
Sempre achei um grande engodo, quase blasfêmia, um disparate propagar esse
tipo de ideia. Imagino que tal conceito foi, certamente, criado por alguém
muito esperto, que apresentou isso como uma verdade, mas com o escuso
objetivo de manter-se no controle evitando o aumento de mentes
questionadoras, que colocariam sua autoridade em risco.
Independente de quem e como essa ideia ganhou corpo e força, ela não
resistiria tanto tempo no mundo se não existissem mentes que a acolhessem.
Mentes preguiçosas ou covardes que preferem os cabrestos, os antolhos, que
limitando o campo de visão e ação, deixariam a vida mais fácil, mais cômoda.
É mais fácil ser guiado do que guiar dirão esses partidários do saudoso
carteiro Jaiminho, da Vila do Chaves, que vivia evitando a fadiga.
Do outro lado, temos Sócrates que, ao ser proclamado o homem mais sábio de
toda a Grécia, concluiu que, se isso fosse a verdade, sua sabedoria só
poderia vir da sua ignorância, respondendo ao título com um sonoro e sincero
"Só sei que nada sei". E mais uma vez nos aparece a ideia da
ignorância como algo bom.
Mas não podemos nos enganar, há aí uma armadilha conceitual entre as
ignorâncias. Enquanto a ignorância de Sócrates vinha da humildade de, após
muita reflexão e estudo, concluir nada saber por reconhecer-se mínimo frente
ao infinito do conhecimento disponível no Universo; que cada nova resposta
geraria uma nova pergunta, ad infinitum; a ignorância do homem comum
vem da negação do conhecimento: por preguiça,
fugindo do doloroso trabalho que é
pensar; ou do orgulho, por achar que já
sabe de tudo e nada mais precisa conhecer.
Essas duas ignorâncias são dois pontos opostos de um ciclo infinito que se
inicia quando estamos humildemente ignorantes, como Sócrates, em busca de
mais conhecimento, e atinge seu ápice quando dominamos o conhecimento.
Entretanto, tendo em vista o infinito de coisas a conhecer que nos cerca, ao
chegarmos ao ápice do ciclo, no pseudo-domínio do saber, é necessário
perceber que há sempre muito mais a conhecer. Se não retomarmos a humildade
e a percepção de que, apesar de tanto conhecimento já adquirido, existem
muito mais coisas que desconhecemos do que coisas que conhecemos, estagnados
e, limitados, nos tornamos dogmáticos e arrogantes, brutos e interrompemos o
processo de conhecer o universo, de evoluirmos, que deve ser continuo.
Então é verdade! A ignorância é, sim, uma bênção!
Quanto mais se sabe, menos se sabe, mais ignorantes nos tornamos. A
ignorância pela preguiça ou medo de sofrimento, não traz paz alguma, apenas
anestesia e, a longo prazo, inevitavelmente, trará as suas dores,
multiplicadas, corno uma ferida não tratada, que só vai aumentando e
infeccionando mais e mais. É a ignorância pelo conhecimento a verdadeira
ignorância abençoada do dito popular, é ela que nos faz humildes e nos dá a
paz e a tranqüilidade verdadeiras.
Que bom é ser ignorante!
Autoria:
Tiago Lobão
Publicado em 07/10/2016
Postado em 10/10/2016
Observações:
O artigo acima estará apensado à nossa chamada em
homenagem ao Dia do Professor, que descuidadamente foi enviada com uma
semana de antecipação ao jornal.
Assim, na Coluna Mensageiro
em 14/10/2016, este artigo estará complementando, chamando atenção à
preguiça de estudar.
Com a palavra os internautas:
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