O escritor
Tiago Lobão Inforzato, que regularmente ocupa o "espaço cult" no
jornal Gazeta Diário, na Semana da Pátria, brindou os leitores e as leitoras
do diário, com uma observação bem pontual. Na edição de 09 e 10 de setembro
o
artigo teve o título: Da Independência.
Neste 7 de setembro, estive no Parque do Ipiranga, aqui em São Paulo, para
as comemorações da Independência do Brasil. A imaginação excitadíssima por
estar no mesmo lugar onde, há 195 anos atrás o Imperador Pedro I recebeu um
comunicado de Portugal, com novas diretrizes da coroa e, não contente com o
que leu, resolveu que era hora do Brasil ser um país independente. Os
detalhes da operação, se houve grito, cavalo branco, mula ou diarréia, pouco
me importa, é apenas detalhe tão útil quanto a cor das ceroulas do imperador
naquele dia ou das minhas nesta tarde.
De qualquer forma, foi muito emocionante cantar o Hino à Independência e o
Hino Nacional, executado pela orquestra da USP, ao por do sol; olhando o
Monumento à Independência, onde estão os restos mortais de Dom Pedro I, bem
ao lado do Riacho do Ipiranga.
Mas, mesmo envolvido entre tantos símbolos nacionais, toda a pompa e
circunstância e o respeito que o evento demandava, não pude evitar pensar :
"Independência
do que? De quem?".
Realmente, apesar do evento histórico, apesar de termos nosso próprio
governo, de fato, de verdade mesmo, nunca fomos um país independente. Talvez
nenhum país o seja realmente, talvez não haja independência de verdade em
lugar nenhum.
O fato é que
sempre dependeremos de alguém. De alguém que nos pague um
salário, de alguém que compre do que produzimos, do agricultor que planta
nosso alimento, da planta e dos animais que o fabricam, das moléculas vitais
que estão no ar que respiramos, de cada órgão e célula de nosso corpo que
nos forma e permite a vida, da luz do sol que permite as condições
energéticas e climáticas para a vida... enfim... é um ciclo infinito de
interdependência em muitos níveis.
Da mesma forma funciona entre as nações do mundo. Há os que compram, os que
vendem, os que produzem e essa relação se desdobra em quem manda mais ou
menos, quem pode mais ou menos. A dinâmica das relações é sempre a mesma, e
não é estática, pode ser alterada no desenvolver do tempo, por inúmeros
fatores.
E, de repente, percebi que esse raciocínio derrubou a própria questão que o
criou. É
muito primário, quase infantil, ficar questionando "independência
por que? de quem? de que?", pois, de fato, isso não
existe.
A independência, que só existe se for completa, pois, se incompleta, ainda é
dependência, é uma ilusão.
Somos dependentes de tanta coisa que é melhor reconhecer que não existe,
verdadeiramente, a independência. E qualquer luta para conquistá-la é vã, é
quixotesca, para deixar mais poético.
Portanto, é melhor reconhecer que, para nos mantermos vivos e bem,
precisamos de todas as coisas que existem, até mesmo de coisas que ainda nem
sabemos. Trabalhando, assim, uma vida realmente melhor e mais leve, que não
se desgasta na busca de uma superioridade impossível, mas que, através desse
paradigma mais respeitoso e grato com tudo que nos cerca, nos coloca
novamente no nosso lugar como intermediários, e não como finalidade do
universo. que faz a vida chegar até nós para que a passemos adiante
caridosamente.
Autoria:
Tiago Lobão Inforzato
Publicado em 09/09/2017
Postado em 16/09/2017
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