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do Professor Tarcísio Vanderlinde são sempre bem vindos, para serem
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versão será o "site antigo", e a versão "responsiva" será liberada com
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A foto, ao final, e a legenda
reforçarão o sentido do artigo.
Uma
definição de dicionário nos informa que a palavra “solicitude”
se relaciona ao ato de ter boa vontade, desejo de atender da melhor maneira
possível a alguma solicitação, empenho, interesse, atenção.
Uma pessoa atenciosa é (alguém) uma pessoa
solícita.
Solicitude é palavra chave no livro do sacerdote holandês Henry Nouwen
(1932-1996). Segundo Nouwen, a solicitude pode emergir de uma boa prática de
solidão.
Autor de 40 livros, quase todos sobre espiritualidade, Nouwen teve passagens
pelas universidades de Harvard e Yale, além de se envolver com populações
empobrecidas do Peru e com pessoas que apresentavam deficiência mental em
escolas da Europa e Canadá.
Identificado com a igreja católica, seus livros têm sido descobertos e
utilizados em muitas igrejas evangélicas. “O paradoxo da solidão”, publicado
pelas Edições Paulinas em 1975 é um destes textos. Nele o autor fala da
importância da atividade laboral a luz da solicitude e da solidão.
Ele conta que alguns anos antes de escrever o livro, encontrou um velho
professor na Universidade de Notre Dame. Rememorando sua longa vida de
ensino, ele havia proferido a ele uma frase com um engraçado lampejo nos
olhos: “Estive sempre a queixar-me que meu trabalho era constantemente
interrompido, até que lentamente descobri que minhas interrupções eram o meu
trabalho”.
Baseado
nos ensinos de Jesus Cristo, Nouwen
sugere a necessidade de solidão para se pôr a casa em ordem de vez em
quando. Ele lembra que o Mestre costumava madrugar e se dirigir a
lugares desertos onde fazia suas
orações.
A solidão seria capaz de devolver o caráter humano em constante risco de ser
desfigurado pelo excesso de distrações que a modernidade costuma oferecer.
Além disso, ele considera que “seja onde for, sabemos que
sem um lugar solitário nossas ações rapidamente se
transformam em gestos vazios”.
A ânsia de ser útil na sociedade em que se vive, move positivamente muitas
pessoas, mas só a experiência de solidão é que levaria o sujeito a descobrir
que não somos o que podemos conquistar, somos de fato a partir do que nos é
dado.
É na solidão que se descobre que a vida não é uma
propriedade a ser defendida, mas um dom
a ser repartido.
É na solidão que também se pode envelhecer livremente sem se preocupar com a
utilidade de, por exemplo, oferecer um serviço novo.
É da solidão enfim, que
pode emergir a solicitude, o cuidado com o
outro.
Na solicitude não tem barganha. O amigo que tem
solicitude é aquele que fica em silêncio ao nosso lado num
momento de desespero e confusão. Pode até não saber o que dizer, mas encara
conosco a realidade de nossa fraqueza. É a atitude humana corajosa de estar
presente um ao outro.
“No pouco tempo de que dispomos para viver, podemos
fazê-lo criativamente quando o vivemos pela solidão, a saber desprendidos
dos resultados do nosso trabalho. E quando o vivemos com solicitude,
chorando com os que choram”, conclui Nouwen.
Autoria:
Tarcisio Vanderlinde
Publicado em 04/08/2018
Foto cedida pelo autor:

Nota do autor: A
imagem é do Deserto da Judeia às margens do Mar Morto. Captei a imagem da
região a partir das cavernas de Qumran, local onde também fica o sítio
arqueológico que foi habitado pelos Essênios.
Foto buscada na Internet:

Complementando a nota:
Normalmente se vai a este local para fotografar as cavernas e o sítio
arqueológico. Pouco se olha para o outro lado. Jesus apreciava lugares
desertos para orar e meditar.
Obrigado, Professor
Tarcisio Vanderlinde!
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