Já registramos
em publicações anteriores que o
Professor Tarcísio Vanderlinde nos presenteia com escritos que são
verdadeiros presentes. Com a aproximação dos festejos dos
500 Anos da
Reforma Luterana,
ele nos brindará com escritos que, certamente, trarão muita clareza aos
leitores/internautas. Acompanhe!
Ao
visitar a Alemanha, caçadores de castelos quase que inevitavelmente se
dirigem à Baviera. É lá que estão os três castelos construídos
a mando do excêntrico rei Luís II no seu curto reinado durante no
século XIX.
Entre fatos, lendas e maledicências, costuma-se ouvir que Luís II era
fissurado pelo poder do rei francês Luís XIV (o rei sol) e pelas óperas de
Richard Wagner.
Os três castelos teriam sido motivados por aquilo que ele viu no
palácio de Versalhes e pelo gênio artístico do músico alemão. Deveriam
ser luxuosos como Versalhes e impactantes como as composições do músico.
As construções do tipo “contos de fadas” teriam levado Walt Disney a erigir
um castelo no parque de diversões mais famoso do mundo estimulado
principalmente por uma das obras de Luís: o castelo Neuschwastein. Mas há
um castelo na Alemanha que nada tem a ver com os devaneios de Luís.
Mais ao norte, no estado da Turíngia, antiga Alemanha
Oriental, em uma das colinas próximas a Eisenhach, cidade onde
Martinho Lutero viveu sua infância, existe uma fortaleza que
passou a adquirir maior visibilidade por ocasião dos 500 anos da
Reforma Protestante: trata-se do castelo de
Wartburgo.
A construção original está a completar 1000 anos e foi eleita em 1999
como patrimônio da humanidade, um monumento excepcional do período
feudal na Europa central, estando ligado a valores culturais de importância
universal. O Wartburgo é o mais famoso castelo da estirpe dos Ludowinger e
tem uma história secular muito rica que se ancora em nossos dias.
Um mito humorístico atribui o seu nome a um episódio ligado ao seu criador.
Quando este teria visto pela primeira vez a colina onde se ergue hoje o
castelo ter-se-ia encantado pelo lugar e gritado: “Wart’, Berg – du sollst
mir eine Burg tragen!” (Espera montanha - tu deverás tornar-te num castelo
para mim). Contudo, o significado real do nome deriva da
palavra “Wächter” (vigia) – “Wächterburg”
(castelo de vigia).
Ao final do século XVIII, Johann Wolfgang Goethe teria visitado a
fortaleza por diversas vezes tendo influenciado nas reconstruções que
se fizeram no local a partir do século XIX. Diferentemente de outros
castelos, que tem sua história marcada por conflitos militares ou sonhos
megalomaníacos de algum fidalgo, Wartburgo é marcado por eventos
pacíficos, lugar para poesia, música e produções culturais.
O castelo foi renovado ao longo da sua existência, com muitas construções
mais antigas a servirem de base a outras mais recentes.
Entre 1952 e 1966, por exemplo, o governo da
Alemanha Oriental já havia procedido restauros
que devolveram a estrutura ao aspeto que tinha no
século XVI, incluindo o quarto de Lutero
com o seu pavimento e paredes apaineladas originais.
Após ser banido pelo imperador Carlos V durante a Dieta de Worms em 1521,
Lutero é levado secretamente ao castelo onde permanece incógnito sob o
pseudônimo de junker Jörg (cavaleiro Jorge).
Durante os meses que aí se refugiou, Lutero se
dedicou a traduzir o Novo Testamento para o alemão com o
intuito de que a leitura bíblica pudesse ser
acessível e popularizada. Já haviam traduções, porém o acesso era
elitizado.
O trabalho de tradução acabou se tornando a obra mais importante na vida do
monge inconformado.
Entre outras narrativas, o esforço de Lutero acabou
incluindo o castelo de Wartburgo na história da cristandade.
Autoria:
Tarcisio Vanderlinde
Publicado em 15/09/2017
Fotos cedidas pelo autor:
Castelo de Wartburg - Vista externa, atual, após
restaurações
Castelo de Wartburg - Vista interna, atual, acesso aos
visitantes e pesquisadores
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