O
Professor Tarcísio Vanderlinde nos presenteia com escritos que são
verdadeiros presentes. Quem já leu algum artigo anterior de sua autoria,
perceberá uma continuidade de seu testemunho por ter tido o privilégio que
muitos não tiveram, ou não se deram.
Em
nossa curta estadia em Jerusalém, por duas vezes nos vimos caminhando pela
Via Dolorosa, caminho pelo qual Jesus
teria carregado a cruz em direção ao Gólgota.
Tradição e achados arqueológicos indicam que o roteiro original percorrido
por Jesus coincide com a inusitada rua da cidade
antiga de Jerusalém dos tempos atuais.
A via de traçado irregular costuma receber mais atenção da mídia por ocasião
das celebrações associadas à Semana Santa. Afora isso, a impressão sentida
pelo visitante que pisa ali pela primeira vez, é que o
ambiente não passa de uma feira que embaça a história que fez aquela
rua ser tão famosa. Costuma-se comercializar ali uma
variedade de produtos, que vão desde frutas a fragmentos arqueológicos
normalmente bem valorizados.
Por
recomendação de nossos guias, foi solicitado que não
parássemos para compras nos dois momentos que por ali passamos. A
atitude fez com que num determinado lugar se ouvisse de um comerciante uma
interpelação a nós dirigida em português: “brasileiros
são todos mão de vaca”. Ele sabia identificar bem um grupo de
brasileiros. Deve ter morado no Brasil para mostrar tal intimidade. Não
paramos para perguntar.
Foi preciso um pouco de concentração para perceber que
estávamos num lugar histórico e muito procurado por peregrinos que
visitam a Terra Santa. É do conhecimento das pessoas, mesmo de quem nunca
tenha posto o pé ali, que a via é marcada por estações iconográficas
onde teriam ocorrido eventos durante a dolorosa caminhada de Jesus. Templos
católicos em todo o mundo costumam reproduzir estas estações.
Entre
as estações identificamos uma que nos causou reflexão:
a V estação. Naquele momento ela nos lembrou nossa situação
transitória por aquele lugar. Trata-se da alegoria relacionada a um
visitante que se encontrava em Jerusalém para a festa da Páscoa. Ele
estava meio ao acaso naquela rua quando Jesus vinha carregando a cruz.
As narrativas sustentam que ele foi pego de surpresa ao ser solicitado
pelos soldados que escoltavam o condenado que o ajudasse a carregar a
cruz: “e constrangeram um certo Simão Cirineu, pai de Alexandre e
Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz”.
Há pouca coisa a respeito deste curioso visitante de Jerusalém na Bíblia.
Cirineu não era o sobrenome dele, apenas indicava a região [Cirene] de onde
viera. Era uma terra distante de Jerusalém. Ela fazia parte de uma colônia
judaica situada ao norte da África, na região onde hoje é a Líbia. Lugar
este, estabelecido três séculos antes do nascimento de Cristo por Ptolomeu
Lago que à época governava o Egito. Sabe-se que os judeus que habitavam
aquela colônia eram influentes e numerosos a ponto de manter uma sinagoga em
Jerusalém.
Estando ali por outro motivo, Simão de Cirene acabou sendo envolvido em
uma situação inesperada. A experiência intempestiva, contudo, parece
ter mudado os rumos de sua vida. Entre referências bíblicas e relatos
pautados na tradição, é possível concluir que Simão e sua família,
após aquele episódio, passaram a fazer parte da igreja primitiva.
Num mundo marcado pelo consumo e pelo egoísmo a história de Simão de Cirene
soa anacrônica. Afinal, qual o benefício que ainda
se poderia usufruir ao levar, ainda que por breves momentos, a cruz de
alguém que se sentisse exausto?
Autoria:
Tarcisio Vanderlinde
Imagem fornecida pelo autor
Recebido em 13/04/2016
Publicado em 04/05/2017
Considerações:
Passou a Semana Santa, passou a Páscoa, passou
Tiradentes, passou o Dia do Trabalho e, só agora vamos publicar esse artigo?
Sim, justo agora que passou o Dia do Trabalho, data em
que muitos pensaram serem o centro das atenções, mas não é o empregado, o
'pião' ou 'peão' que foram homenageados, pois a mídia foca intencionalmente
aos trabalhadores como se os dirigentes, os investidores, os que propiciam
as vagas, não trabalhassem. O que se guarda é o Dia do Trabalho.
"Se o trabalho te é penoso,
presta serviço que te será honroso!"
Observemos no artigo acima, que o visitante Simão, de
Cirene, um local não tão próximo de Jerusalém, não realizou um trabalho, ao
carregar a cruz em que Cristo seria crucificado, mas, ainda que impositivo,
prestou um serviço.
Então quem se propõe a prestar serviço, nunca se
sentirá menosprezado pelo o que faz, pois, na verdade "Não
importa o que você faz, mas como você faz!".
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